quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Critica: Magnífica 70 (Primeira Temporada)

Criada por: Cláudio Torres, Renato Fagundes e Leandro Assis
Nº de Episódios da Temporada: 13
Duração dos Episódios: 50 - 60min
Emissora: HBO
País de Origem: Brasil
Gênero: Drama
Classificação Indicativa: 16 anos.
Elenco: Marcos Winter, Simone Spoladore, Adriano Garib, Maria Luísa Mendonça, Stepan Nercessian,  Juliana Galdino,  Pierre Baitelli, André Frateschi,  Julia Ianina,  Rodrigo Fregnan, Leandro Firmino, Paulo César Pereio e Joana Fomm
Sinopse: São Paulo, 1973. Vicente (Marcos Winter) é um homem entediado que trabalha como censor do governo, graças a uma indicação de seu sogro, o influente general Souto (Paulo César Pereio). Um dia, ao assistir em sessão privada a pornochanchada "A Devassa da Estudante", ele fica abalado pelas semelhanças entre a protagonista Dora Dumar (Simone Spoladore) e sua falecida cunhada, Ângela (Bella Camero), e com isso veta o longa-metragem. Dias depois, a própria Dora e o produtor Manolo (Adriano Garib) vão ao departamento de censura, em uma tentativa desesperada de liberar o filme. Disposto a se aproximar de Dora, Vicente oferece ajuda a Manolo para que o filme possa ser exibido. É o início da trajetória do censor em plena Boca do Lixo, onde ele cada vez mais se apaixona por fazer cinema.

Acho que de tudo que já resenhei aqui essa é a primeira vez que estou falando sobre um conteúdo nacional. Esse ano parece que o Brasil tem se abrido muito para o mercado audiovisual, a HBO lançou dois grandes projetos na América do Sul, a mais recente (O Hipnotizador) que é uma produção bilíngue (em português e espanhol) e Magnífica 70 que é 100% brasileira. Comecei a assistir pela curiosidade de assistir algo daqui sem ter qualquer tipo de relação com a Globo ou televisão aberta. Gostei muito da primeira temporada, é realmente revigorante ver uma produção realmente boa e que valorize a cultura de país. Não assisto a muitas séries brasileiras, mas as que tive alguma vontade acabam sempre repetindo o mesmo formato das americanas (Dupla Identidade foi IGUAL a The Fall com toques de The Killing) ou reproduzindo o que já estamos acostumados a ver em novelas. Magnífica tem um tom novelesco um tanto incomodo, mas ela é diferenciada por sua produção de alta qualidade e roteiro muito bem amarrado.
Trio maravilha.
Primeiramente o que a destaca das demais séries nacionais é o tema e a época que se encontra. Falar sobre o universo da pornochanchada e a corrupção do cinema nacional durante a ditadura militar nos anos de 1970 foi uma sacada incrível. É um tema interessantíssimo e extremamente brasileiro. Não sei se todos conhecem o contexto histórico dessa época, provavelmente devem saber, afinal estudamos isso na escola, mas as icônicas produções ruins da Boca do Lixo (em São Paulo), que são peças bizarramente sensacionais da cultura brasileira que muita gente tenta esquecer (alô, Xuxa, a gente lembra), são pouco conhecidas por pessoas mais jovens. Ok, não vou pagar de velho, nesse momento, ano de 2015, tenho menos que 20 anos, mas todo mundo que tem o Canal Brasil em casa já deve ter se deparado com algum desses filmes constrangedores da década de 70. Já ditadura militar é indiscutível que todo mundo conhece e, apesar de alguns acéfalos fazerem protesto pedindo a volta dos militares, é uma realidade totalmente reconhecível. A opressão do regime militar era braba e as suas ferramentas esquizofrênicas de censura e tortura são algo impressionante até hoje.
Por um texto com apenas fotos da Simone Spoladore.
O maior acerto de Magnífica 70 é o trabalho de arte maravilhoso e digno de aplausos. Visualmente a séries está linda de morrer. Toda a reconstituição da época, que vai desde figurinos e cabelos a cenários é impecável. Ela é muito bonita, você fica hipnotizado pelas belas imagens que aparecem o tempo todo. Dá vontade de pausar cada cena, tirar um print e mandar revelar ou colocar como wallpaper do computador. Todo esse cuidado estético é com certeza o maior chamariz. A direção é boa, o som é legal, a trilha sonora, que pode se tornar um pouco repetitiva, funciona e o recurso do usado nos flashbacks é simplesmente belíssimo. É um preto e branco puro e extremante bonito. Os atores são em sua maioria muito bons, mas aí acabamos entrando no primeiro problema. Boa parte dos atores estão bem entrosados e entraram bem nos personagens, mas quase todas as atuações acabam soando artificias pelo uso “correto” da língua portuguesa. Quando se escreve um texto é uma coisa, agora ninguém usa “está” além de “tá” em uma frase corrida. Uma coisa é o personagem do Vicente que é um homem do governo, todo certinho utilizar a norma culta em seu vocabulário, outra coisa é os caras da boca do livro e as vagabundas. Cafetão não vai falar “Levem-na para a sala de estar, para conversarmos!”, ele vai falar “Leva ela pra sala pra gente conversar!”. Não é crível, tem gente que fala e parece que tá declamando poema. De todos no elenco os que eu mais gostei foi Marcos Winter, a linda e maravilhosa Simone Spoladore e Adriano Garib.
O sujo e brega que vintage fica lindo.
Acho que outro grande problema também a quantidade de episódios, treze foi muito e isso fica claro, faz dez que é melhor, gente, fácil. A história iria direto ao ponto sem enrolação e assim os episódios não ficariam tão arrastados. Existem alguns plots de personagem completamente desnecessários que atrapalham o andamento. É uma narrativa lenta, ela funciona bem, mas a duração longa e a trama cadenciada acabam gerando certo esforço de se assistir em maratona. A dica é: se ainda não viu e se interessou, vá aos poucos, é melhor. Um ou dois episódios por dia. É um universo tão interessante que apesar de longos e um pouco arrastados, você quer ver mais e o roteiro interessa o suficiente para se continuar assistindo.
A HBO está de parabéns, precisamos de mais grandes produções brasileiras e com a Netflix oficializando o 3% só torço para cada vez mais produções nacionais de qualidade apareçam. Magnífica 70 dá várias derrapadas, mas ainda assim é um produto altamente bem feito e plasticamente lindo pela ambientação e reconstituição de época. Estou ansioso pela segunda temporada. Dê uma chance para a série, vale a pena e duvido que vá se arrepender.
Nota: 8,5
Trailer:



Um comentário:

  1. A série de televisão HBO contada em 10 episódios, a história continuará situada na Boca do Lixo e na produtora Magnífica. Nos novos episódios, a produtora passa por um do momento conturbado, com seus membros sendo chantageados para participar de um esquema de corrupção junto à Embrafilme. A série Magnifica 70 se passa em um filme de época em São Paulo e Boca de Lixio foi chamado, onde fizeram uma auto-sustentável e filmes independentes com vários tipos de filmes, tais como poesia, drama, os políticos e também que são chamados de pornochanchadas, mas não tudo veio à luz.

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